Galáxias do Conhecimento

Cometas escuros



13/12/2024

As mais recentes descobertas sobre incríveis objetos cósmicos que parecem asteroides, mas agem como se fossem cometas.

Oumuamua
Concepção artística do 1I/2017 U1 (Oumuamua), objeto interestelar descoberto em 2017, quando passou pelo Sistema Solar. Embora ele não seja classificado como um cometa escuro, sua aceleração sem explicação gravitacional sugere que pode apresentar mecanismos físicos semelhantes, como emissões gasosas muito sutis ou processos ainda desconhecidos. [Imagem: European Southern Observatory / M. Kornmesser]

O que diferencia um asteroide de um cometa é o coma, uma imensa e fina atmosfera que se forma ao redor do cometa, que também exibe uma cauda característica.

Quando um cometa se aproxima do Sol, parte do gelo em sua superfície evapora e é expulsa pelos ventos solares, moldando o formato do coma e da cauda. Esse processo também impulsiona a aceleração do objeto, influenciando sua órbita.

Asteroides também sofrem desvios sutis em suas órbitas, embora com muito menos intensidade, devido a uma força minúscula chamada efeito Yarkovsky, provocada pela absorção de energia solar e sua reirradiação em forma de calor. Esse efeito foi confirmado por cientistas da NASA, utilizando radares avançados.

Recentemente, vários objetos próximos à Terra foram descobertos apresentando acelerações significativas que não podem ser explicadas por forças gravitacionais ou pelo efeito Yarkovsky. É possível que essas acelerações sejam induzidas por emissões de gases, como ocorre com os cometas.

Entretanto, não foi identificado um coma nesses objetos, muito menos uma cauda. Eles se assemelham a asteroides em aparência, mas comportam-se como cometas. Seja lá qual for a força que impulsiona suas órbitas, sua fonte ainda está invisível a instrumentos convencionais. Em 2023, já tinham sido identificados sete desses objetos, levando os cientistas a classificar uma nova categoria de corpos celestes: os cometas escuros.

Na verdade, já se desconfiava da existência desses corpos antes mesmo de sua recente classificação. Em 2016, estudos sobre o asteroide 2003 RM revelaram desvios orbitais significativos. Tais desvios não podiam ser explicados pela típica aceleração observada em asteroides, como a pequena aceleração chamada de efeito Yarkovsky. Esses estudos serviram como uma das primeiras pistas para o desenvolvimento do conceito de cometas escuros.


Duas populações de cometas escuros

Em artigo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (Anais da Academia Nacional de Ciências) em 9 de dezembro, intitulado Two Distinct Populations of Dark Comets Delineated by Orbits and Sizes (Duas Populações Distintas de Cometas Escuros Delineadas por Órbitas e Tamanhos), pesquisadores relataram a descoberta de mais sete cometas escuros e demonstraram que esses objetos se dividem em duas populações com características distintas.

Uma delas é chamada de cometas escuros externos, que possuem características semelhantes às dos cometas da família de Júpiter*: órbitas muito excêntricas (elípticas) e diâmetros de centenas de metros ou mais.


*Cometas da família de Júpiter são objetos cujo movimento orbital é fortemente influenciado pela força gravitacional do planeta Júpiter, caracterizando-se por períodos curtos e inclinações orbitais baixas. Não devem ser confundidos com os asteroides Gregos e Troianos, que compartilham a órbita do planeta. (vide matéria sobre Asteroides e Cometas)


A outra é a dos cometas escuros internos, que se concentram no Sistema Solar interior (região que abrange Mercúrio, Vênus, Terra e Marte). Eles descrevem órbitas quase circulares e são menores, com diâmetros de dezenas de metros ou menos.


Cometas escuros como fornecedores da vida

Pequenos corpos celestes podem fornecer pré-requisitos essenciais para o desenvolvimento da vida, incluindo compostos orgânicos, aos planetas rochosos. Por exemplo, evidências sugerem que a água chegou à Terra transportada por objetos hidratados originados em regiões distantes do Sistema Solar.

Além disso, a descoberta de catorze cometas escuros até o momento indica que provavelmente existem muitos mais desses objetos. Eles, por si só, podem ter desempenhado um papel fundamental ao abastecer a Terra com materiais essenciais para o desenvolvimento da vida.

No entanto, essas hipóteses ainda não são conclusivas. Apesar do avanço no conhecimento sobre os cometas escuros proporcionado pelo novo estudo, questões cruciais permanecem sem resposta: qual é a causa da aceleração atípica? Há, de fato, algum tipo de emissão de gases? Eles contêm gelo? De onde se originam?

Em suma, há muito a ser descoberto sobre esses intrigantes personagens celestes e seu comportamento peculiar.


★ Edição: Mauro Mauler - publicada em 13/12/2024.

★ Referências:


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Asteroides e Cometas

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