Cometas escuros
13/12/2024
As mais recentes descobertas sobre incríveis objetos cósmicos que parecem asteroides, mas agem como se fossem cometas.
O que diferencia um asteroide de um cometa é o coma, uma imensa e fina atmosfera que se forma ao redor do cometa, que também exibe uma cauda característica.
Quando um cometa se aproxima do Sol, parte do gelo em sua superfície evapora e é expulsa pelos ventos solares, moldando o formato do coma e da cauda. Esse processo também impulsiona a aceleração do objeto, influenciando sua órbita.
Asteroides também sofrem desvios sutis em suas órbitas, embora com muito menos intensidade, devido a uma força minúscula chamada efeito Yarkovsky, provocada pela absorção de energia solar e sua reirradiação em forma de calor. Esse efeito foi confirmado por cientistas da NASA, utilizando radares avançados.
Recentemente, vários objetos próximos à Terra foram descobertos apresentando acelerações significativas que não podem ser explicadas por forças gravitacionais ou pelo efeito Yarkovsky. É possível que essas acelerações sejam induzidas por emissões de gases, como ocorre com os cometas.
Entretanto, não foi identificado um coma nesses objetos, muito menos uma cauda. Eles se assemelham a asteroides em aparência, mas comportam-se como cometas. Seja lá qual for a força que impulsiona suas órbitas, sua fonte ainda está invisível a instrumentos convencionais. Em 2023, já tinham sido identificados sete desses objetos, levando os cientistas a classificar uma nova categoria de corpos celestes: os cometas escuros.
Na verdade, já se desconfiava da existência desses corpos antes mesmo de sua recente classificação. Em 2016, estudos sobre o asteroide 2003 RM revelaram desvios orbitais significativos. Tais desvios não podiam ser explicados pela típica aceleração observada em asteroides, como a pequena aceleração chamada de efeito Yarkovsky. Esses estudos serviram como uma das primeiras pistas para o desenvolvimento do conceito de cometas escuros.
Duas populações de cometas escuros
Em artigo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (Anais da Academia Nacional de Ciências) em 9 de dezembro, intitulado Two Distinct Populations of Dark Comets Delineated by Orbits and Sizes (Duas Populações Distintas de Cometas Escuros Delineadas por Órbitas e Tamanhos), pesquisadores relataram a descoberta de mais sete cometas escuros e demonstraram que esses objetos se dividem em duas populações com características distintas.
Uma delas é chamada de cometas escuros externos, que possuem características semelhantes às dos cometas da família de Júpiter*: órbitas muito excêntricas (elípticas) e diâmetros de centenas de metros ou mais.
A outra é a dos cometas escuros internos, que se concentram no Sistema Solar interior (região que abrange Mercúrio, Vênus, Terra e Marte). Eles descrevem órbitas quase circulares e são menores, com diâmetros de dezenas de metros ou menos.
Cometas escuros como fornecedores da vida
Pequenos corpos celestes podem fornecer pré-requisitos essenciais para o desenvolvimento da vida, incluindo compostos orgânicos, aos planetas rochosos. Por exemplo, evidências sugerem que a água chegou à Terra transportada por objetos hidratados originados em regiões distantes do Sistema Solar.
Além disso, a descoberta de catorze cometas escuros até o momento indica que provavelmente existem muitos mais desses objetos. Eles, por si só, podem ter desempenhado um papel fundamental ao abastecer a Terra com materiais essenciais para o desenvolvimento da vida.
No entanto, essas hipóteses ainda não são conclusivas. Apesar do avanço no conhecimento sobre os cometas escuros proporcionado pelo novo estudo, questões cruciais permanecem sem resposta: qual é a causa da aceleração atípica? Há, de fato, algum tipo de emissão de gases? Eles contêm gelo? De onde se originam?
Em suma, há muito a ser descoberto sobre esses intrigantes personagens celestes e seu comportamento peculiar.
★ Referências:
- D.Z. Seligman, D. Farnocchia, M. Micheli, O.R. Hainaut, H.H. Hsieh, A.D. Feinstein, S.R. Chesley, A.G. Taylor, J. Masiero, K.J. Meech. Two distinct populations of dark comets delineated by orbits and sizes. Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A, 09/12/2024.
- NASA Researchers Discover More Dark Comets. NASA/JPL-Caltech, 09/12/2024.