Sistema Solar
Vênus
O planeta Vênus, que tem o nome de uma deusa do amor, é muitas vezes chamado de irmão gêmeo da Terra, devido às semelhanças em estrutura e tamanho. No entanto, em vários aspectos, ele é um oposto de nosso planeta: seu movimento de rotação é mais lento e invertido em relação ao da maioria dos mundos, por isso o Sol nasce no oeste e põe-se no leste.
Se nos aproximarmos dele, veremos que é um mundo infernal, o mais quente do Sistema Solar: a superfície atinge temperaturas de até 465 graus Celsius. A atmosfera é tão espessa que, se estivéssemos no chão de lá, veríamos o Sol como uma tênue mancha de luz. Vislumbres da região abaixo das espessas e ácidas nuvens revelam disformes montanhas e vulcões.
Portanto, sua superfície atual, de rocha vulcânica, é constantemente bombardeada por altas temperaturas e pressões. A vida como conhecemos é impossível em um ambiente como este.
Trata-se do objeto mais brilhante do céu noturno, depois da Lua, e muitas vezes visível ao amanhecer. Por isso, os antigos davam-lhe grande importância e, na verdade, pensavam haver dois astros distintos: a Estrela da Manhã (ou Matutina), que muitos chamam atualmente de Estrela Dalva, e a Estrela da Tarde.
Vênus é quase do mesmo tamanho que a Terra: 12.104 km de diâmetro, contra os 12.756 km de nosso planeta. Como sua órbita está mais próxima do Sol do que a nossa, os dois - de nosso ponto de vista - nunca se afastam muito um do outro.

Diâmetro equatorial: ≈ 12.100 km
Distância média ao Sol: 1,08 x 108 km
Distância média à Terra: 9,17 x 107 km
Dia: 243 dias terrestres
Ano: 225 dias terrestres
Luas: nenhuma
[Imagem: NASA's Solar System Exploration: Venus]

A distância da Terra até Vênus é de 61 milhões de quilômetros, quando ele está mais próximo. Entretanto, na maior parte do tempo, os dois planetas ficam mais afastados. Mercúrio, apesar de mais interior no Sistema Solar, passa mais tempo perto de nós do que Vênus, devido a características orbitais únicas.
Se observarmos Vênus através de binóculos ou de um telescópio, veremos que ele tem fases, como nossa Lua (cheia, minguante, nova, crescente, etc.), mas leva 584 dias para completar um ciclo completo, enquanto que a Lua demora apenas um mês.
Este fato, observado pela primeira vez por Galileu Galilei, constituiu a prova científica chave de que o Sol está no centro do sistema (heliocentrismo), e não a Terra (geocentrismo), como pensavam os antigos.
Um dia venusiano equivale a 243 dias terrestres - mais longo até do que um ano de Vênus (uma volta ao redor do Sol), que dura apenas 225 dias terrestres. Devido à rotação extremamente lenta do planeta, o intervalo do nascer ao pôr do Sol é de 117 dias terrestres. Como o sentido do giro é invertido em relação ao da Terra, o Sol nasce no oeste e põe-se no leste.
A inclinação do eixo de rotação de Vênus em relação ao plano de sua órbita é de apenas três graus, o que é muito pouco para que ocorram estações climáticas perceptíveis. Ou seja, é um calor verdadeiramente infernal o tempo todo!
Formação e estrutura
Vênus formou-se no disco rodopiante de gás e poeira que deu origem ao Sistema Solar, há 4,6 bilhões de anos, quando parte dessa matéria concentrou-se nos planetas atuais. A partir de então, no decorrer do tempo, planetas tiveram suas posições iniciais alteradas, afastando-se ou aproximando-se do centro do disco.
Posicionados em órbitas vizinhas, Vênus e Terra são semelhantes, até certo ponto. Além de serem quase do mesmo tamanho, conforme já vimos, também apresentam estruturas parecidas. Ambos têm um núcleo de ferro envolvido por um manto de rocha quente, cuja camada mais fina compõe uma crosta exterior.
Nos dois planetas, a crosta muda de forma e, por vezes, entra em erupção em vulcões, devido ao fluxo e refluxo de calor e pressão provenientes das profundezas.
A confirmação de outras possíveis semelhanças exige mais investigações - e talvez outra visita a um planeta que já recebeu muitas sondas terrestres, tanto em órbita quanto em sua superfície. No entanto, as visitas ao solo foram muito breves, pois o ambiente infernal não tem permitido que as sondas sobrevivam por muito tempo.
Superfície
A sonda espacial Magellan, da NASA, que terminou, em 1994, uma missão de cinco anos em Vênus, mapeou a superfície fervente usando radar. O que ela viu foi uma terra de extremo vulcanismo, recentemente remodelada (em termos geológicos), e imponentes cadeias de montanhas.

Com exceção da Terra, Vênus tem, de longe, o menor número de crateras de impacto entre os planetas rochosos, demonstrando que sua superfície é relativamente jovem. Ou seja, o planeta parece ter apagado completamente a maior parte dos vestígios de sua superfície primitiva. As causas: forças vulcânicas e tectônicas, que podem incluir o encurvamento do solo e erupções maciças.
Esta superfície tem sido tema de acalorada discussão entre os cientistas planetários. A tese tradicional inclui o auge de uma catastrófica transformação em todo o planeta, entre 350 e 750 milhões de anos atrás.
Por outro lado, estudos mais recentes, com base em modelos computacionais, indicam que a metamorfose ocorreu de forma mais gradual, ao longo de um período maior de tempo, tendo seu clímax há aproximadamente 150 milhões de anos.

Atmosfera
A União Soviética enviou 10 sondas à superfície de Vênus. No entanto, mesmo entre as poucas que funcionaram após a aterragem, os sucessos foram de curta duração - a sobrevivente por mais tempo durou duas horas, e a de menor duração, apenas 23 minutos.
As fotografias tiradas antes da aterragem mostram uma paisagem estéril, sombria e rochosa, e um céu provavelmente em tom de amarelo enxofre.
É uma atmosfera de extremos. Para sobreviver em um ambiente como esse, uma sonda teria que ter um sistema de isolamento inimaginavelmente forte, para resistir às altíssimas temperaturas, bem como um invólucro exterior extremamente espesso e pressurizado para evitar o esmagamento pelo peso da atmosfera, equivalente ao peso da água a 1 quilômetro de profundidade no oceano.
O ar é composto principalmente por dióxido de carbono, responsável pelo intenso efeito estufa, com nuvens de ácido sulfúrico. E, à superfície, o dióxido de carbono quente e a alta pressão criam um ambiente corrosivo. No entanto, uma variação interessante ocorre quando subimos mais alto na atmosfera: a temperatura e a pressão começam a diminuir.
Magnetosfera
Embora Vênus tenha dimensões análogas às da Terra e um núcleo de ferro também de tamanho semelhante, o planeta não possui um campo magnético próprio, gerado internamente. Em vez disso, ele apresenta um campo magnético induzido.
Este campo fraco é criado pela interação entre o campo magnético do Sol, transportado pelos ventos solares, e a atmosfera exterior do planeta, onde a luz ultravioleta solar excita os gases. As partículas eletricamente excitadas são chamadas de íons, por isso a região é chamada de ionosfera (na Terra, também há uma ionosfera).
Isto cria (induz) um campo magnético que envolve o planeta e tem o formato de uma lágrima estendida, ou cauda de cometa, devido ao efeito do vento solar que passa, em direção às camadas mais externas do Sistema Solar.

Polêmicas sobre a vida em Vênus
Uma visão dominante no meio científico tem sido a de que Vênus pode já ter sido um mundo oceânico habitável, mas isto, no mínimo, um bilhão de anos atrás. De lá para cá, devido a um efeito estufa descontrolado, toda a água da superfície teria se evaporado e lentamente escoado para o espaço.
No entanto, um estudo recente refuta essa ideia, sugerindo que o planeta pode nunca ter tido condições de reter água líquida em sua superfície e formar um ambiente propício à vida. O estudo, conduzido por três pesquisadores da Universidade de Cambridge e intitulado A dry Venusian interior constrained by atmospheric chemistry (“Um interior venusiano seco limitado pela química atmosférica”), foi publicado em 2 de dezembro de 2024, no periódico Nature Astronomy.
Nele, são relatados os resultados de pesquisa baseada em análises da atmosfera venusiana, demonstrando que o interior do planeta é seco. Os gases expelidos pelos vulcões contêm apenas 6% de água.
Com base neste fato, os pesquisadores concluem que Vênus iniciou sua história de vida com um ambiente extremamente quente, formando um oceano de magma que ressecou ao longo do tempo, resultando em uma superfície seca de longa duração, incapaz de sustentar a vida como conhecemos, a qual depende da presença de água líquida.
A polêmica da fosfina
Por tudo o que já apresentamos, pode parecer absurdo aventar uma hipótese dessas, mas não podemos excluir totalmente a possibilidade de haver vida atual em Vênus. A temperatura, a pressão atmosférica e a química são bem favoráveis lá no alto, naquelas nuvens espessas e amarelas.
A cerca de 50 quilômetros de altitude, as temperaturas variam entre 30 e 70 graus Celsius, uma faixa que, mesmo no seu limite superior, poderia acomodar formas de vida, como os micróbios extremófilos (que conseguem sobreviver em condições ambientais inacessíveis a seres mais comuns). Além disso, a pressão atmosférica, naquela altura, é semelhante à que encontramos na superfície da Terra.
No topo das nuvens, açoitadas por ventos que atingem 360 quilômetros por hora ao redor do planeta, encontramos outra curiosa característica: aparecem riscos persistentes e escuros. Até o momento atual, os cientistas ainda não conseguiram explicar por que razão eles permanecem teimosamente intactos, mesmo no meio de ventos com força de furacão. Eles também têm o estranho hábito de absorver a radiação ultravioleta.
As explicações mais plausíveis propõem que os riscos são partículas finas, cristais de gelo ou mesmo um composto químico chamado cloreto de ferro. Embora seja muito menos provável, outra possibilidade é que eles sejam constituídos por vida microbiana.
Astrobiólogos observam que as ligações em forma de anel dos átomos de enxofre, existentes na atmosfera de Vênus, poderiam fornecer aos micróbios uma espécie de revestimento que os protegeria do ácido sulfúrico. Esses práticos mantos químicos também absorveriam a luz ultravioleta potencialmente nociva e a irradiariam de volta sob a forma de luz visível.
Instigando a ideia, algumas das sondas russas Venera detectaram partículas na atmosfera inferior de Vênus com cerca de um mícron de comprimento - aproximadamente o mesmo tamanho de uma bactéria na Terra.
E fomentando mais ainda a possibilidade, em 2020 foi anunciada a presença de fosfina na atmosfera do planeta. Tal substância, na Terra, é produzida apenas industrialmente ou por certos tipos de bactérias.

O estudo foi publicado na revista Nature de 14 de setembro de 2020. Os resultados decorreram da análise de observações espectrais feitas pelos telescópios JCMT (James Clerk Maxwell Telescope) e por 45 instrumentos do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array).
Em 2022, outro grupo de cientistas, com base em observações do observatório SOFIA, descartou a presença da substância em Vênus. Os autores do artigo inicial, no entanto, rebateram, alegando que as análises sofreram interferências que comprometem a veracidade das conclusões.
A polêmica ainda não terminou. O fato é que nenhuma dessas conclusões é decisiva para afirmar que a hipótese de vida em Vênus seja ou não plausível, no presente ou no passado. Investigações mais profundas são necessárias.
A sonda DAVINCI, que a NASA pretende lançar até o final desta década, tem como objetivo realizar estudos minuciosos do ambiente venusiano, desde o alto de suas nuvens até a superfície. Aguardemos...


★ Referências:
- Constantinou, T., Shorttle, O. & Rimmer, P.B. A dry Venusian interior constrained by atmospheric chemistry. Nat Astron (2024).
- Greaves, J.S., Richards, A.M.S., Bains, W. et al. Phosphine gas in the cloud decks of Venus. Nat Astron (2020).
- Nasa's Solar System Exploration: Venus.
- Royal Astronomic Society. Hints of life on Venus. (2020).
- SETI Institute. Life on Venus?. (2020).