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Vênus

O planeta Vênus, que tem o nome de uma deusa do amor, é muitas vezes chamado de irmão gêmeo da Terra, devido às semelhanças em estrutura e tamanho. No entanto, em vários aspectos, ele é um oposto de nosso planeta: seu movimento de rotação é mais lento e invertido em relação ao da maioria dos mundos, por isso o Sol nasce no oeste e põe-se no leste.

Se nos aproximarmos dele, veremos que é um mundo infernal, o mais quente do Sistema Solar: a superfície atinge temperaturas de até 480 graus centígrados. A atmosfera é tão espessa que, se estivéssemos no chão de lá, veríamos o Sol como uma tênue mancha de luz. Vislumbres da região abaixo das espessas e ácidas nuvens revelam disformes montanhas e vulcões.

Portanto, sua superfície atual, de rocha vulcânica, é constantemente bombardeada por altas temperaturas e pressões. A vida como conhecemos é impossível em um ambiente como este.



Ambiente típico de Vênus atual. [Créditos: NASA's Goddard Space Flight Center Conceptual Image Lab, via NASA's Scientific Visualization Studio]

Vênus é o objeto mais brilhante do céu noturno, depois da Lua, e muitas vezes também é visível ao amanhecer. Por isso, os antigos davam-lhe grande importância e, na verdade, pensavam haver dois astros distintos: a Estrela da Manhã (ou Matutina), também conhecida popularmente como Estrela Dalva, e a Estrela da Tarde.

Ele é quase do mesmo tamanho que a Terra: 12.104 km de diâmetro, contra os 12.756 km de nosso planeta. Como a órbita de Vênus está mais próxima do Sol do que a nossa, os dois - de nosso ponto de vista - nunca se afastam muito um do outro.


Vênus

Tipo: planeta rochoso
Diâmetro equatorial: ≈ 12.100 km
Distância média ao Sol: 1,08 x 108 km
Distância média à Terra: 9,17 x 107 km
Dia: 243 dias terrestres
Ano: 225 dias terrestres
Luas: nenhuma

[Imagem: NASA's Solar System Exploration: Venus]



Vênus Mariner 10
Foto obtida em 1974 pela sonda Mariner 10. [Créditos: NASA/JPL-Caltech, via Wikimedia Commons]


A distância da Terra até Vênus é de 61 milhões de quilômetros, quando ele está mais próximo da Terra. Entretanto, na maior parte do tempo, os dois planetas ficam mais afastados. Mercúrio, apesar de ser mais interior, passa mais tempo perto de nós do que Vênus.

Se observarmos Vênus através de binóculos ou um telescópio, veremos que ele tem fases, como nossa Lua (cheia, minguante, nova, crescente, etc.), mas leva 584 dias para completar um ciclo completo, enquanto que a Lua demora apenas um mês. Este fato, observado pela primeira vez por Galileu Galilei, constituiu a prova científica chave de que o Sol está no centro do sistema (heliocentrismo), e não a Terra (geocentrismo), como pensavam os antigos.

Um dia venusiano equivale a 243 dias terrestres - mais longo até do que um ano de Vênus (uma volta ao redor do Sol), que dura apenas 225 dias terrestres. Devido à rotação extremamente lenta do planeta, o intervalo do nascer ao pôr do Sol é de 117 dias terrestres. Como o sentido do giro é invertido em relação ao da Terra, o Sol nasce no oeste e põe-se no leste.

A inclinação do eixo de rotação de Vênus em relação ao plano de sua órbita é de apenas três graus, o que é muito pouco para que ocorram estações climáticas perceptíveis. Ou seja, é um calor infernal o tempo todo!


Potencial para a vida

Vênus pode já ter sido um mundo oceânico habitável, mas isto, no mínimo, um bilhão de anos atrás. De lá para cá, devido a um efeito estufa descontrolado, toda a água da superfície evaporou-se e lentamente escoou para o espaço.



Ambiente venusiano como deve ter sido há cerca de um bilhão de anos ou mais, quando ainda havia água líquida em sua superfície. [Créditos: NASA's Goddard Space Flight Center Conceptual Image Lab, via NASA's Scientific Visualization Studio]



Possível cenário do período em que Vênus passou pela transformação que o levou a ser como é atualmente. [Créditos: NASA's Goddard Space Flight Center Conceptual Image Lab, via NASA's Scientific Visualization Studio]

Apesar disso, Vênus pode conter lições sobre o que é preciso para a vida começar - na Terra, no Sistema Solar ou em qualquer outro lugar do Universo. Os ingredientes devem estar todos lá, ou pelo menos costumavam estar.

Ao estudar a razão pela qual o nosso vizinho seguiu uma direção tão diferente no que diz respeito à habitabilidade, podemos descobrir fatores que podem influenciar para que outros mundos, inclusive o nosso, sejam bons para se viver.

Por outro lado, pode parecer absurdo, mas não podemos excluir totalmente a possibilidade de haver vida atual em Vênus. A temperatura, a pressão atmosférica e a química são bem mais favoráveis lá no alto, naquelas nuvens espessas e amarelas.

A cerca de 50 quilômetros de altitude, as temperaturas variam entre 30 e 70 graus Celsius, uma faixa que, mesmo no seu limite superior, poderia acomodar formas de vida, como os micróbios extremófilos (que conseguem sobreviver em condições ambientais inacessíveis a seres mais comuns). Um ponto favorável é o fato de que a pressão atmosférica, naquela altura, é semelhante à que encontramos na superfície da Terra.

No topo das nuvens, açoitadas por ventos que atingem 360 quilômetros por hora ao redor do planeta, encontramos outra curiosa característica: aparecem riscos persistentes e escuros. Até o momento atual, os cientistas ainda não conseguiram explicar por que razão eles permanecem teimosamente intactos, mesmo no meio de ventos com força de furacão. Eles também têm o estranho hábito de absorver a radiação ultravioleta.

As explicações mais plausíveis propõem que os riscos são partículas finas, cristais de gelo ou mesmo um composto químico chamado cloreto de ferro. Embora seja muito menos provável, outra possibilidade é que eles sejam constituídos por vida microbiana.

Astrobiólogos observam que as ligações em forma de anel dos átomos de enxofre, existentes na atmosfera de Vênus, poderiam fornecer aos micróbios uma espécie de revestimento que os protegeria do ácido sulfúrico. Esses práticos mantos químicos também absorveriam a luz ultravioleta potencialmente nociva e a irradiariam de volta sob a forma de luz visível.

Instigando a ideia, algumas das sondas russas Venera detectaram partículas na atmosfera inferior de Vênus com cerca de um mícron de comprimento - aproximadamente o mesmo tamanho de uma bactéria na Terra.

E fomentando mais ainda a possibilidade, em 2020 foi anunciada a presença de fosfina na atmosfera do planeta. Tal substância, na Terra, é produzida apenas industrialmente ou por certos tipos de bactérias.

O estudo foi publicado na revista Nature de 14 de setembro de 2020. Os resultados decorreram da análise de observações espectrais feitas pelos telescópios JCMT (James Clerk Maxwell Telescope) e por 45 instrumentos do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array)

Pelo que se sabe atualmente do ambiente venusiano, não há meios conhecidos para a produção de fosfina na atmosfera, nuvens, superfície e subsuperfície do planeta sem a intercorrência biológica, a não ser que estejamos lidando com processos fotoquímicos ou geoquímicos ainda desconhecidos.

Ocorre que, em 2022, outro grupo de cientistas, com base em observações do observatório SOFIA, fez novo estudo e descartou a presença da substância em Vênus, mas os autores do artigo inicial rebateram a contestação, alegando que as observações realizadas sofreram interferências que comprometem a veracidade das conclusões.

A polêmica ainda não terminou, mas o fato é que nenhuma dessas descobertas é conclusiva de que haja mesmo vida em Vênus. Fazem-se necessárias visitas mais profundas ao nosso planeta vizinho.


Fosfina em Vênus
Concepção artística destacando moléculas de fosfina encontradas nas altas camadas da atmosfera de Vênus. [Imagem: ESO/M. Kornmesser/L. Calçada & NASA/JPL-Caltech - Tipo licença: Attribution (CC BY 4.0)]


Formação e estrutura

Uma questão crítica para os cientistas que procuram vida entre as estrelas: como é que um planeta começa a se tornar habitável? As semelhanças entre Vênus e a Terra, com destinos tão diferentes, constituem uma espécie de desafio para quem estuda a formação de planetas.

Tamanho semelhante, estrutura interior semelhante, ambos abrigando oceanos nos seus tempos mais jovens. No entanto, um deles é agora um inferno, enquanto o outro é o único mundo conhecido - até o momento - que abriga vida abundante.

Os fatores que colocaram esses planetas em caminhos quase opostos começaram, muito provavelmente, no disco rodopiante de gás e poeira de onde nasceram. De alguma forma, há 4,6 bilhões de anos, parte da matéria desse disco concentrou-se nos planetas que hoje conhecemos. Vários deles podem ter se aproximado ou se afastado, em relação ao centro do disco ou entre eles próprios, à medida que o Sistema Solar foi se formando.

A razão para destinos tão diferentes encontra-se nessa dinâmica de gênese do Sistema Solar, mas saber exatamente como isso aconteceu ainda requer estudos mais profundos.

Se pudéssemos cortar Vênus e Terra ao meio, polo a polo, e colocá-los lado a lado, seriam muito parecidos. Os dois têm um núcleo de ferro envolvido por um manto de rocha quente, a camada mais fina formando uma crosta rochosa exterior. Em ambos, a crosta muda de forma e, por vezes, entra em erupção em vulcões, devido ao fluxo e refluxo de calor e pressão provenientes das profundezas.

A confirmação de outras possíveis semelhanças exigem mais investigações - e talvez outra visita a um planeta que já recebeu muitas sondas terrestres, tanto em órbita quanto em sua superfície. No entanto, as visitas ao solo foram muito breves, pois o ambiente infernal de Vênus não tem permitido que as sondas sobrevivam por muito tempo.


Superfície

A sonda espacial Magellan, da NASA, que terminou, em 1994, uma missão de cinco anos em Vênus, mapeou a superfície fervente usando radar. O que ela viu foi uma terra de extremo vulcanismo, recentemente remodelada (em termos geológicos), e imponentes cadeias de montanhas.

Com exceção da Terra, Vênus tem, de longe, o menor número de crateras de impacto entre os planetas rochosos, demonstrando que sua superfície é relativamente jovem.


Vulcões em Vênus
Concepção artística de vulcão ativo na superfície de Vênus. Observe a crosta mergulhando em direção ao interior do planeta, formando uma verdadeira trincheira topográfica. [Imagem: NASAJPL-Caltech/Peter Rubin, via NASA's Solar System Exploration: Venus]

Em outras palavras, Vênus parece ter apagado completamente a maior parte dos vestígios de sua superfície primitiva. As causas: forças vulcânicas e tectônicas, que podem incluir o encurvamento do solo e erupções maciças.

Esta superfície tem sido tema de acalorada discussão entre os cientistas planetários. A tese tradicional inclui o auge de uma catastrófica transformação em todo o planeta, entre 350 e 750 milhões de anos atrás.

Por outro lado, estudos mais recentes, com base em modelos computacionais, indicam que a metamorfose ocorreu de forma mais gradual, ao longo de um período maior de tempo, tendo seu clímax há aproximadamente 150 milhões de anos.

Atmosfera

A União Soviética enviou 10 sondas à superfície de Vênus. No entanto, mesmo entre as poucas que funcionaram após a aterragem, os sucessos foram de curta duração - a sobrevivente por mais tempo durou duas horas, e a de menor duração, 23 minutos.

As fotografias tiradas antes da aterragem das sondas mostram uma paisagem estéril, sombria e rochosa, e um céu provavelmente em tom de amarelo enxofre.

Trata-se de uma atmosfera de extremos. Para sobreviver em um ambiente como esse, uma sonda teria que ter um sistema de isolamento inimaginavelmente forte, para resistir às altíssimas temperaturas, bem como um invólucro exterior extremamente espesso e pressurizado para evitar o esmagamento pelo peso da atmosfera, equivalente ao peso da água a 1 quilômetro de profundidade no oceano.

O ar é composto principalmente por dióxido de carbono - provocando o efeito estufa - com nuvens de ácido sulfúrico. E, à superfície, o dióxido de carbono quente e a alta pressão criam um ambiente corrosivo. No entanto, uma variação estranha ocorre quando subimos mais alto na atmosfera: a temperatura e a pressão começam a diminuir.


Magnetosfera

Embora Vênus tenha dimensões análogas às da Terra e um núcleo de ferro também de tamanho semelhante, o planeta não tem um campo magnético próprio, gerado internamente. Em vez disso, ele apresenta um campo magnético induzido.

Este campo fraco é criado pela interação entre o campo magnético do Sol, transportado pelos ventos solares, e a atmosfera exterior do planeta, onde a luz ultravioleta solar excita os gases; as partículas eletricamente excitadas são chamadas de íons, por isso a região é chamada de ionosfera (na Terra, também há uma ionosfera).

Isto cria (induz) um campo magnético que envolve o planeta e tem o formato de uma lágrima estendida, ou cauda de cometa, devido ao efeito do vento solar que passa, em direção a camadas mais externas do Sistema Solar.

★ Edição: Mauro Mauler - atualizada em 04/11/2023.

★ Referências:

Nuvens de Vênus
Estrutura de nuvens de Vênus, revelada pela sonda Pioneer Venus Orbiter, em 1979.




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