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Buracos negros

Buraco negro
Concepção artística mostrando matéria girando em torno de um buraco negro. [Créditos: NASA/Dana Berry/SkyWorks Digital, via NASA.]

A definição mais simples de buraco negro é: um objeto tão denso que nem mesmo a luz pode escapar de sua superfície. Vamos entender como isso acontece?

O conceito de buraco negro pode ser compreendido se pensarmos sobre o quão rapidamente algo precisa se mover para escapar da gravidade de outro objeto. Isto é chamado de velocidade de escape, cuja definição formal é: a velocidade que um corpo precisa atingir para libertar-se da atração gravitacional de outro corpo.

São dois os fatores que afetam a velocidade de escape: a massa do objeto e a distância até o centro do mesmo. Por exemplo, dada a massa da Terra e a distância da superfície até seu centro, para que uma pedra escape de nosso planeta, precisa ser lançada de modo que atinja uma velocidade de 11,2 km/s.

Se esta mesma pedra estivesse em um planeta com a mesma massa terrestre, mas com metade de seu diâmetro, a velocidade de escape seria de 15,8 km/s. Embora a massa seja a mesma, a velocidade de escape é maior porque o corpo do qual pretende escapar é menor, portanto mais denso.

E se o corpo for ainda menor? Se toda a massa da Terra for acomodada em uma esfera de raio igual a 9 mm, a velocidade de escape será igual à velocidade da luz. E se o tamanho desse objeto for reduzido só mais um pouquinho, a velocidade de escape será maior do que a da luz!

Porém, este é o limite cósmico de velocidade. Nada pode viajar mais rapidamente que a luz. Logo, torna-se impossível que a pedra escape, se ela estiver muito próxima. É assim que funciona um buraco negro.

Em outras palavras, um buraco negro é qualquer coisa que exija uma velocidade de escape maior que a da luz para que um objeto se livre de sua força gravitacional. Para atingir uma condição desse tipo, nosso Sol precisa que toda a sua massa seja espremida em um volume com raio de aproximadamente 3 quilômetros.



Buraco negro
Simulação de gases quentes rodeando e caindo em um buraco negro. [Créditos: NASA's GSFC/J. Schnittman, J. Krolik (JHU) e S. Noble (RIT)]

Estrutura de um buraco negro

Um buraco negro tem dois componentes básicos: o horizonte de eventos e a singularidade.

O horizonte de eventos é a "região de não retorno" em volta do buraco negro, uma superfície esférica imaginária que o envolve, da qual nem a luz consegue escapar.


Estrutura de um buraco negro


Uma vez que a matéria ultrapasse o horizonte de eventos, ela cairá em direção ao centro, exatamente concentrando-se em um ponto de volume muito, muito pequeno e uma densidade absurdamente alta, tendendo ao infinito.

Tal ponto é a singularidade, uma condição que também havia imediatamente antes do Big Bang, o evento que deu origem ao nosso Universo. A distância entre a singularidade e a superfície do horizonte de eventos é chamada de Raio de Schwarzschild.

Em uma singularidade, as leis físicas conhecidas perdem o sentido. Um grande desafio da Cosmologia Moderna é chegar a uma teoria completa que descreva o que de fato acontece no centro de um buraco negro.


Explorando o invisível

Se nem a luz consegue escapar dos buracos negros, como podemos garantir que eles são reais? Como foi que provamos que eles existem mesmo?

O físico, matemático, cosmólogo e filósofo inglês Roger Penrose foi pioneiro em demonstrar teoricamente, usando métodos matemáticos simples, a existência dos buracos negros como consequência direta da Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein.

Em janeiro de 1965, dez anos depois da morte de Einstein, que não acreditava na existência desses exóticos objetos cósmicos, Penrose publicou um artigo onde os descreveu em detalhes, mostrando que no centro de cada um deles jaz uma singularidade, na qual todas as leis naturais conhecidas param de funcionar.


Roger Penrose
A Real Academia Sueca de Ciências (Royal Swedish Academy of Sciences) concedeu o Prêmio Nobel de Física de 2020 a três cientistas, dentre eles Roger Penrose (foto), por suas demonstrações pioneiras sobre a existência e estrutura dos buracos negros. Penrose ficou com a metade do prêmio, e a outra metade foi para Andrea Ghez e Reinhard Genzel, por estudos que levaram à descoberta de um buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea, de cuja existência já se desconfiava. [Fonte: The Nobel Prize in Physics 2020. NobelPrize.org]

Posteriormente, várias dessas estruturas foram descobertas por detecção indireta. Os astrônomos observam corpos celestes e neles percebem comportamentos que somente podem ser explicados pela presença de um corpo muito massivo e denso nas proximidades.

Os efeitos observados incluem: materiais sendo puxados para o interior do buraco negro, discos de acreção formando-se no entorno e estrelas orbitando um objeto massivo, porém invisível.


Estrutura de um buraco negro
Esquema de um buraco negro supermassivo, típico da região central de galáxias ativas, expelindo jatos relativísticos (jatos de plasma decorrentes da matéria que gira ao redor). [Imagem (adaptada): ESO, ESA/Hubble, M.Kornmesser/N.Bartmann e NASA/CXC]

Para saber mais sobre a formação de discos de acreção e jatos relativísticos, leia nossa matéria sobre galáxias ativas.


As primeiras fotos

Observações mais profundas de buracos negros vêm sendo realizadas através de um grandioso projeto colaborativo chamado Event Horizon Telescope (EHT). Trata-se de uma associação internacional que usa uma tecnologia chamada VLBI - Very Long Baseline Interferometry (Interferometria de Longa Linha de Base) para integrar uma grande rede de telescópios espalhados por todo o mundo, na prática funcionando como se fosse um só, do tamanho da Terra! Desta forma, atingem-se níveis de sensitividade e resolução sem precedentes.

Em 10/04/2019, o EHT divulgou seu primeiro resultado de grande impacto: a primeira autêntica fotografia de um buraco negro. O objeto observado, do tipo supermassivo, encontra-se no centro da M 87, uma densa galáxia nas proximidades do Aglomerado de Virgem. A estrutura reside a 55 milhões de anos-luz da Terra, sendo 6,5 bilhões de vezes mais massiva que o Sol.

Primeira foto de um buraco negro
A primeira fotografia. [Créditos: EHT]

Posteriormente, em maio de 2022, o EHT anunciou a obtenção da primeira imagem do buraco negro supermassivo que se encontra no coração da Via Láctea.


Sagittarius A*
Foto de Sagittarius A*, o buraco negro do centro da Via Láctea.
[Créditos: EHT]

Tipos de buracos negros

Tradicionalmente, são consideradas duas classes básicas de buracos negros - aqueles com massa de 5 a 20 vezes a do Sol, chamados de buracos negros de massa estelar, e os que têm massa de milhões a bilhões de vezes a massa solar, que são os buracos negros supermassivos.

Buracos negros estão espalhados pela galáxia. Os de massa estelar são formados quando estrelas massivas ficam sem combustível e entram em colapso. Logo, eles podem ser localizados nos mesmos lugares em que as estrelas costumam ser encontradas.

Alguns buracos negros de massa estelar nasceram como partes de sistemas binários. A forma como um buraco negro afeta o comportamento de sua companheira pode ser uma pista para a descoberta de sua presença.

Os buracos negros supermassivos são encontrados no centro de quase todas as grandes galáxias. Estudos recentes sugerem que o tamanho de cada um desses objetos está relacionado com o tamanho de sua galáxia. Portanto, é evidente que há uma correlação entre a formação do buraco negro e a formação da galáxia.

A diferença entre as ordens de grandeza dos dois tipos de buraco negro é enorme. Por muito tempo, os astrônomos defenderam que teria que haver uma terceira classe, intermediária, mas somente nos anos 2000 é que começaram a observar possíveis evidências.

Esses estudos são complicados, pelo fato de que muitos objetos identificados como candidatos a buracos negros intermediários também podem ser explicados de outras formas.

Há uma classe de objetos chamados de fontes ultraluminosas de raios X (ultraluminous X-ray sources ou ULX's), que emitem raios X mais intensamente do que os processos estelares conhecidos. Um modelo postula que uma ULX hospeda um buraco negro intermediário. No entanto, pesquisas adicionais têm favorecido hipóteses alternativas para a maioria dos fenômenos observados.

Atualmente, sabe-se que buracos negros de massa intermediária existem mesmo, mas são muito esquivos, difíceis de serem localizados. Recentemente, no entanto, foram identificadas fortes evidências de alguns deles.

Resultados de estudos baseados em observações do Telescópio Espacial Hubble, publicados no The Astrophysical Journal Letters de 31 de março de 2020, podem ser considerados como uma prova. A NASA abordou esses estudos no artigo Hubble Finds Best Evidence for Elusive Mid-Sized Black Hole, na mesma data.

O buraco negro detectado denunciou sua existência ao despedaçar uma estrela que passou por suas imediações. Esta excitante descoberta abre as portas para a possibilidade de existirem muitos outros objetos desse tipo escondidos pelo espaço, à espera de eventos parecidos que os revelem.


Buraco negro intermediário
Região central da galáxia NGC 1313, lar de uma ULX, batizada de NGC 1313 X-1, uma candidata a buraco negro intermediário. [Imagem: European Southern Observatory]

Nada escapa mesmo?

Stephen Hawking demonstrou que os buracos negros retêm algum calor e, desta forma, devem irradiar energia sob a forma de partículas. Esta energia ficou conhecida como Radiação Hawking.

Desta forma, à medida que o buraco negro emite tal radiação, e se esta perda for de magnitude maior do que a quantidade de matéria que absorve, ele vai diminuindo sua temperatura, perdendo substância até que eventualmente ocorra sua completa evaporação.

Este "sumiço" dos buracos negros ainda é uma questão em aberto, assim como a própria teoria sobre a radiação, pois não há qualquer medição direta que comprove a hipótese. Entretanto, não faltam estudos teóricos e até mesmo experimentais sugestivos de que Hawking está correto.

E isto pode trazer profundas implicações para a Física, relacionadas inclusive com a busca por uma teoria quântica da gravitação. O tema é complexo, e quem se animar a explorar os aspectos teóricos envolvidos, um bom artigo é Desvendando a radiação Hawking, de Santi e Santarelli, da Universidade Federal de São Carlos.

O artigo está disponível na Scielo. Clique no link para ter acesso à íntegra.


★ Edição: Mauro Mauler - atualizada em 16/04/2024.

★ Conteúdo parcialmente adaptado de:

NASA's Imagine the Universe



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