Um gigante na teia cósmica
30/09/2024
Astrônomos descobrem o maior par de jatos de buraco negro já observado.
No último dia 18 de setembro, a revista Nature publicou o artigo Black hole jets on the scale of the cosmic web ("Jatos de buraco negro na escala da teia cósmica"), pelo qual um grupo de astrônomos relata observações de colossais pares de jatos relativísticos, aparentemente oriundos de buracos negros. A maior das estruturas observadas, batizada de Porfírio (um gigante da mitologia grega), chega a cerca de 7 Mps (sete megaparsecs) de extensão.
O parsec é uma das unidades de medida de distâncias astronômicas. Um parsec (1 ps) equivale a 30,9 trilhões de quilômetros. O tamanho da estrutura detectada é sete milhões de vezes um parsec (7 Mps), o equivalente a 140 galáxias do tamanho da Via Láctea alinhadas!
Nos últimos 50 anos, foram revelados pares de jatos de buracos negros com tamanhos na faixa de 4,6 a 5 Mps. Isto levou cientistas a concluírem que havia um limite de crescimento de aproximadamente 5 Mpc. Isto foi desmentido pelas novas descobertas.
As observações, imagens de rádio do Telescópio Internacional LOFAR, cobriram uma área de apenas 15% do céu, e foram detectadas mais de 10.000 estruturas semelhantes. Isto sugere que esses gigantescos fenômenos, atingindo a escala da teia cósmica, são mais comuns do que se imaginava.
O que são os jatos?
Onde e quando surgiu Porfírio?
Os jatos de alta potência de buracos negros supermassivos, quando se sustentam por milhões de anos, tornam-se as maiores estruturas formadas em galáxias.
Estes fluxos energéticos, ao injetar elétrons, núcleos atômicos e campos magnéticos no meio intergaláctico (espaço entre as galáxias), podem ter uma influência cosmológica muito abrangente, caso tenham se desenvolvido o suficiente já em tempos iniciais da evolução do Universo.
Tudo indica que Porfírio, o maior sistema de jatos observado, foi gerado em algum momento entre 4,4 (com margem de erro de 0,7 para menos e 0,2 para mais) e 6,3 bilhões de anos após o Big Bang, em um buraco negro hospedado por uma galáxia massiva, localizada a 7,5 bilhões de anos-luz de distância.
A estrutura de Porfírio consiste de um lobo norte, um jato norte, um núcleo, um jato sul com um hotspot interno e um hostspot externo sul com um refluxo. A imagem a seguir representa este imenso par de jatos e seus componentes:
Mistérios a serem desvendados
As descobertas de que ora tratamos demonstram que os jatos podem evitar a destruição por instabilidades magneto-hidrodinâmicas em distâncias cosmológicas, mesmo em épocas em que o Universo era muito mais denso do que é atualmente. Como eles conseguem manter uma consistência tão duradoura ainda é um mistério.
Porfírio existiu durante uma época inicial do Universo, quando os filamentos finos que conectam e alimentam as galáxias (a teia cósmica), estavam muito mais próximos do que estão agora. A descoberta sugere que esses sistemas de jatos gigantes podem ter tido uma influência maior na formação de galáxias no Universo Primordial do que se acreditava anteriormente.
Os cientistas também pretendem aprofundar investigações sobre como essas megaestruturas influenciam seus arredores. O Astrônomo Martijn S. S. L. Oei, principal subscritor do artigo publicado na Nature, está especialmente interessado na questão do magnetismo.
Segundo Oei, "O magnetismo em nosso planeta permite que a vida prospere, então queremos entender como ele surgiu. Sabemos que ele permeia a teia cósmica, depois segue para galáxias e estrelas e, eventualmente, para planetas, mas a questão é: onde ele começa? Os jatos gigantes espalham magnetismo pelo Cosmos?"
★ Conteúdo baseado em informações das seguintes fontes:
OEI, M.S.S.L., Hardcastle, M.J., Timmerman, R. et al. Black hole jets on the scale of the cosmic web. Nature 633, 537-541 (2024). Acesso em 27/09/2024.
CLAVIN, Whitney. Gargantuan Black Hole Jets Are Biggest Seen Yet. Caltech, 18/09/2024.
MOSTERT, Rafaël I. J. et al. Constraining the giant radio galaxy population with machine learning and Bayesian inference. Astronomy & Astrophysics, 02/05/2024.